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Bem-vindo!

Você sabe o que é personalização do ensino? Esse material foi desenvolvido para explicar, de maneira interativa, tudo o que você precisa saber sobre essa abordagem educativa. O conteúdo é dividido em quatro seções: O QUE É, COMO FAZ, SUA VEZ e OPINIÃO.

Na seção O QUE É, você terá acesso ao conceito de personalização do ensino e verá como tem vinculação com influências de pedagogias clássicas. Também entenderá por que falar desse tema se tornou tão urgente nas seções: Por que agora? PARTE 1: história e Por que agora? PARTE 2: tecnologia.

Na COMO FAZ, entenderá várias formas possíveis de personalizar o ensino e lerá a história de cinco iniciativas (Âncora, Khan nas Escolas, We <3 to Learn, GEC Rio de Janeiro, NAVE / Chico Anysio e Summit), todas gratuitas para o estudante.

A seção SUA VEZ é dedicada a educadores interessados em adotar essa abordagem, via uso de tecnologia em sala de aula.

Por fim, a seção de OPINIÃO traz algumas impressões que tivemos ao visitar experiências que praticam a personalização.

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Boa experiência!

O que é

CONCEITO


Se fôssemos tentar descrever uma sala de aula de ensino fundamental típica no Brasil, ela seria em uma escola pública e urbana, com aulas por 4,5 horas por dia e teria por volta de 25 alunos em cada classe.

Se a turma fosse de quinto ano, duas ou três dessas crianças seriam daquelas que sabem tudo de matemática e que pedem novos desafios porque já estão lá na frente enquanto os colegas ainda estão absorvendo os conceitos mais básicos. Oito ou nove delas, por outro lado, estariam entre as que têm tanta dificuldade que precisam de uma atenção especial; neste grupo, é provável que ao menos uma tivesse algum déficit de aprendizagem mais sério. Os 18 ou 19 restantes comporiam um grupo com conhecimentos de um nível que oscila entre o mínimo necessário e o adequado.

Esses dados, retirados do Education at a Glance e de estatísticas do MEC (Ministério da Educação) compiladas pelo QEdu, mostram que, mesmo na configuração de sala de aula mais comum no país, o desafio de proporcionar um ensino significativo para cada estudante é imenso. Numa classe com 25 alunos, os professores precisam lidar com 25 interesses, 25 talentos e 25 necessidades de aprendizagem diferentes.

Não por acaso, a personalização do ensino, ou o ensino personalizado, tem se mostrado uma das tendências mais fortes da educação no Brasil e no mundo.

O termo se refere a uma série de estratégias pedagógicas voltadas a promover o desenvolvimento dos estudantes de maneira individualizada, respeitando as limitações e os talentos de cada um. Ele leva em consideração que os alunos aprendem de formas e em ritmos diferentes, já que também são diversos seus conhecimentos prévios, competências e interesses.

Education at a Glance, OCDE

Um Olhar para a Educação, em livre tradução, é uma publicação anual produzida pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que traz indicadores educacionais de diferentes países. Entre os dados apresentados no documento estão informações sobre escolarização, organização das escolas, investimentos públicos no setor e acesso à educação. No Brasil, o MEC apresenta alguns dos destaques mais importantes para o país em português pelo site do Inep , órgão do ministério responsável pelos dados educacionais brasileiros. Em inglês, é possível ter acesso a informações detalhadas de todos os países que compõem o estudo pela página da iniciativa no portal da OCDE.

QEdu

Ferramenta aberta e gratuita que reúne dados sobre a educação brasileira, feita pela Meritt e pela Fundação Lemann. O portal contém filtros que permitem encontrar informações sobre a qualidade do aprendizado em cada escola, município, estado do Brasil ou mesmo dados gerais do país. Na situação descrita acima, a pesquisa feita foi da proficiência dos alunos de 5º ano em matemática a partir dos resultados da Prova Brasil 2011. Além disso, o QEdu também organiza informações do Censo Escolar, facilitando consultas sobre número de matrículas, infraestrutura das escolas, perfil de alunos e professores da educação básica brasileira.
50 mi
de alunos estão na educação básica no Brasil
83%
Estão matriculados na rede pública
12%
Sabem no 9º ano o que deveriam de matemática
22%
Sabem no 9º ano o que deveriam de português

Influências


Mas a ideia de proporcionar um ensino mais relacionado às necessidades e expectativas dos estudantes não é algo novo. De acordo com Lilian Bacich, pedagoga que estuda ensino híbrido em seu doutorado na USP, alguns dos educadores que mais influenciaram as salas de aula brasileiras já traziam a preocupação de personalizar a educação, mesmo que usassem outros termos para descrever o conceito.

O brasileiro Paulo Freire, afirma a especialista, é um deles. O patrono da educação brasileira, morto em 1997, defendia que o aprendizado acontece de verdade quando o aluno é levado a compreender o que ocorre ao seu redor, a fazer suas próprias conexões e a construir um conhecimento que faça sentido para a sua vida. “Freire falava em aproximar o objeto de estudo à realidade do aluno. Isso também é personalização”, afirma Bacich.

Segundo Mitchel Resnick, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e um dos expoentes no estudo do uso da criatividade no aprendizado, uma das grandes contribuições do brasileiro foi mostrar que saber ler é importante por ser uma habilidade útil na rotina de qualquer ser humano, mas é ainda mais crucial porque faz com que os educandos se tornem autônomos — palavras muito caras aos que defendem a personalização do ensino. “Freire entendeu que aprender a escrever era importante não só por questões práticas, mas para se sentir um participante ativo da sociedade”, afirmou.

Um exemplo de rede de escolas que assumidamente se baseia nos ensinamentos de Paulo Freire para proporcionar um ensino voltado às necessidades de cada aluno é a High Tech High. Localizadas na Califórnia, essas 11 escolas, que são públicas de administração privada, apostam em quatro pilares pedagógicos: personalização, conexão com o mundo real, interesse comum em aprender e professor como designer do aprendizado. Lá, cada aluno tem a mentoria de um adulto para descobrir seus interesses, talentos e assim buscar autonomamente um aprendizado adequado às suas necessidades. Todos os dias os estudantes definem um cronograma de atividades, com o qual se comprometem, e determinam onde querem chegar. Entre as possibilidades de aprendizagem que têm ao longo do dia estão projetos em grupo, momentos de reflexão individual, com e sem tecnologia, e aulas tradicionais.

Por falar em autonomia e mentoria, Bacich não fica apenas em Freire ao apontar referências tradicionais. Ela relaciona também alguns dos preceitos da personalização aos ensinamentos de outro educador importante para o Brasil, o psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934). Para a especialista, o conceito desenvolvido por ele de zona de conhecimento proximal se enquadra bem nessa discussão atual. “A zona de conhecimento proximal é aquilo que o aluno pode fazer tendo o apoio necessário. Também é um olhar para cada um”, afirma.

Paulo Freire (1921-1997)

É o patrono da educação brasileira, além de filósofo e educador reconhecido nacional e internacionalmente. Defendeu, durante toda a sua vida, que os processos de aprendizagem acontecem na troca e na colaboração e que os alunos são seres que trazem repertórios importantes. Condenou o que chamou de educação bancária, aquela em que o professor é um mero transmissor de conhecimentos. Foi atuante politicamente e precisou deixar o país durante o regime militar. É autor de livros que influenciam até hoje a formação dos educadores do mundo todo, como Pedagogia do Oprimido (1974) e Pedagogia da Autonomia (1996).

Por que agora? PARTE 1: história


Se a ideia não é nova, por que a discussão sobre personalização parece tão urgente? Por que só agora a preocupação em personalizar o ensino tomou o discurso e a prática de escolas e redes de ensino inteiras?

Por algumas razões. A primeira delas fica fácil de analisar a partir de uma perspectiva histórica. Jim Lengel, professor da Universidade de Nova York e consultor em educação, costuma fazer um paralelo entre o universo do trabalho e o da escola ao longo dos séculos.

Segundo o especialista, há 150 anos, no século 19, as pessoas trabalhavam ao ar livre, com ferramentas produzidas manualmente e em grupos compostos por pessoas de idades diferentes. Paralelamente, na escola, os alunos aprendiam também em grupos heterogêneos e de uma maneira bastante artesanal. A essa configuração, Lengel deu o nome, respectivamente, de Ambiente de Trabalho 1.0 e Educação 1.0.

Já no século 20, os profissionais foram trabalhar em fábricas e passaram a se organizar em torno de grandes grupos, que exerciam as mesmas atividades ao longo de todo o dia. Ao mesmo tempo, na escola, os alunos passaram a ser divididos por idade. Aqui, as atividades também eram repetitivas. Para Lengel, isso se chama, respectivamente, Ambiente de Trabalho 2.0 e Educação 2.0.

Por último, no século 21, os trabalhos voltaram a ser feitos em grupos menores, formados por especialistas de diferentes áreas que se reúnem para resolver problemas complexos. Usam recursos digitais para produzir e se comunicar e experimentam novas formas de se organizar. Na escola, no entanto, o paradigma segue o da Educação 2.0, com aulas padronizadas e atividades repetitivas. “A educação não evoluiu para acompanhar as necessidades do mundo ao seu redor. Os empregos de hoje em dia demandam pessoas que possam trabalhar em pequenos grupos para resolver problemas, utilizando ferramentas digitais, preparados para realizar muitas tarefas diferentes durante o dia, sem uma supervisão próxima e com um vasto círculo de conexões”, afirma o professor.

Isso quer dizer que a educação nos moldes de hoje não forma cidadãos para o mercado. E pior: se a educação não faz sentido para o mundo do trabalho, tampouco faz para os estudantes. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento 2012, divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), 24,3% dos brasileiros abandonam o ensino fundamental antes de completar a última série.

Pesquisa feita pela Fundação Victor Civita com jovens de baixa renda reforça esse descolamento entre escola e vida. Seu resultado foi sintetizado em cinco grandes conclusões sobre o que os alunos pensam da escola: que não tem conexão com seu projeto de vida, que tem currículo fragmentado e com poucas aulas práticas, que registra baixo uso de tecnologia em sala, que faltam professores e que é mal conservada.

A diversidade de opções já é uma realidade em vários aspectos da vida contemporânea, como o consumo e o entretenimento. Ninguém mais têm à disposição apenas poucos canais de televisão, por exemplo, mas pode assistir a filmes sob demanda em qualquer horário ou ritmo. A maneira como as pessoas consomem informações e notícias também se transformou completamente, de forma que é possível filtrar e encontrar conteúdos aprofundados a partir dos interesses e necessidades de cada um. Se a sociedade está oferecendo possibilidades de personalização em diversas áreas, seria estranho não questionar por que a educação também não deveria mudar.

Em alguns mercados, o consumidor assumiu um novo papel, mais ativo, como explica o CEO da plataforma de ensino on-line Veduca, Carlos Souza: “Na indústria da música, há 15 anos atrás, o poder estava nas mãos das gravadoras. A tecnologia entrou e hoje o poder está com o consumidor final, que escuta música, de modo que dá para comprar on-line uma música só, sem ter que ir a uma loja e comprar o CD todo. Isso acontece também na indústria do entretenimento, basta olhar para o grande exemplo da Netflix. E está acontecendo na educação.”

Portanto, uma das explicações sobre por que se falar de personalização agora vem da necessidade de se oferecer um ensino em linha com o que o aluno espera e com o que o mercado exige.

Por que agora? PARTE 2: tecnologia


Um segundo motivo que torna a personalização um assunto urgente tem estreita correlação com a entrada da tecnologia no universo da educação.

De acordo com o banco de investimento inglês Ibis Capital, a educação movimentou no mundo, em 2012, US$ 4,4 trilhões – e a perspectiva é que seja daí para mais. A fatia desse mercado que mais cresce é a do e-learning (aprendizado on-line), setor identificado pelo banco como tendo potencial disruptivo para as instituições de ensino. Nele foram investidos US$ 91 bilhões em 2012, valor que deve aumentar 23% até 2017.

Nos Estados Unidos, a união de educação e tecnologia já virou um substantivo só: edtech. O movimento encontrou no Vale do Silício um campo fértil para novos produtos. De lá saíram iniciativas como a Khan Academy, plataforma gratuita que oferece videoaulas e outros recursos digitais que facilitam a aprendizagem, e o Coursera, plataforma de cursos on-line e gratuitos em parceria com universidades de ponta que está obrigando o ensino superior a ser repensado.

No Brasil, a indústria ainda está em processo de organização, mas já há claros indícios de que o universo de edtech também encontra aqui um campo para se desenvolver. O Ministério da Ciência e Tecnologia, por exemplo, lançou em 2013 o Start-Up Brasil, para incentivar o desenvolvimento de startups no país. Na primeira turma, 20% de todas as empresas inscritas eram diretamente de educação, setor com maior representatividade do programa.

Os novos produtos gerados por essa comunhão efervescente entre educação e tecnologia começam a trazer respostas para o desafio de se personalizar em grande escala. Segundo Cláudio Sassaki, CEO da Geekie, startup que desenvolve plataformas adaptativas para o ensino básico, talvez a grande contribuição da tecnologia na educação é conseguir dar escala a processos que, antes, eram restritos.

Coursera

Empresa de tecnologia educacional criada em 2012, que oferece cursos on-line gratuitos em parceria com mais de 100 universidades renomadas de todo o mundo. Algumas delas são as universidades de Princeton, Michigan, Pennsylvania, Stanford, Tokio e Columbia. Os cursos contam com vídeos, enquetes e fóruns colaborativos em várias disciplinas, como administração, medicina, ciências sociais, literatura, matemática e ciência da computação, entre outros.

E é aqui que o uso de dados se torna relevante para a personalização. O desenvolvimento tecnológico tem possibilitado que o histórico deixado pelos estudantes em ambientes virtuais de ensino seja usado como insumo para decisões pedagógicas. “Se você tiver um número muito grande de pessoas usando uma plataforma, é possível coletar os dados de cada aluno. Com base nesses dados, dá para entender como é que as pessoas aprendem”, afirma Sassaki.

Em posse dessas informações, professores e alunos podem compreender melhor estilos individuais de aprendizagem: a hora do dia, o tipo de recurso (livro, jogo, videoaula) e outras variáveis que fazem o estudante aprender melhor. “É possível criar padrões de aprendizado e, muito rapidamente, quando o aluno entra na plataforma, identificar qual é o perfil desse aluno para determinado assunto. Com um histórico de informações de como é que essas pessoas aprendem, é possível criar um plano de estudos personalizado para esse aluno”, afirma o empreendedor.

Veja, a seguir, um exemplo de como soluções tecnológicas podem tornar o aprendizado mais agradável.

Plataforma adaptativa

Ferramenta dotada de inteligência artificial capaz de registrar os passos do aluno – todas as atividades que cada um completou, o percentual de acertos e um diagnóstico individualizado sobre o que aprenderam e o que falta aprender. A partir dessas informações, a plataforma propõe um plano de aprendizado com atividades diferentes para cada aluno, sob medida, e fornece subsídios para professores e gestores traçarem estratégias de ensino de acordo com as demandas dos alunos.

Como Faz

Para demonstrar como a personalização acontece na prática, o Porvir pesquisou iniciativas que utilizam diferentes estratégias para promover um ensino personalizado. Algumas dessas experiências estão centradas no uso da tecnologia, outras pouco utilizam recursos digitais. Há aquelas que têm como foco crianças e as que se voltam mais para os adolescentes. Parte delas estão no Brasil, outras no exterior. Todas são gratuitas e acontecem em três tipos de escolas: públicas convencionais, geridas via parceria público-privado ou mantidas por investidores sociais.

Antes de conhecer as experiências, confira algumas características recorrentes em todas elas:

Autonomia

As escolas que se propõem a oferecer um ensino mais personalizado colocam o aluno no centro de sua proposta pedagógica e criam oportunidades para que se torne o principal agente do seu aprendizado. Não por acaso, o desenvolvimento de indivíduos autônomos é um valor importante para todas as iniciativas visitadas. A autonomia é estimulada a partir de diferentes estratégias. Em algumas escolas, os alunos elaboram seus planos individuais de aprendizado, outras dão ao estudante a liberdade de fazer escolhas ao longo de sua trajetória escolar.

Ambiente de aprendizagem

Para que os alunos tenham a possibilidade de aprender de diferentes maneiras, as escolas têm reorganizado seu espaço físico. Na maior parte das vezes, a opção é por mobiliário flexível, que permite diferentes arranjos, capazes de abrigar atividades diversas (on-line, experimentações, debates e até aulas expositivas), tanto realizadas individualmente, quanto em grupos. Há escolas que aboliram as salas de aula tradicionais. A presença de dispositivos móveis, como tablets e celulares, também ampliam a variedade de ambientes em que aprender é possível.

Mentoria

O apoio individual oferecido por um adulto de referência é outra das estratégias usadas para promoção do ensino personalizado. Normalmente, cada professor tem um número máximo de alunos que acompanha em diferentes níveis: rotina acadêmica, projeto de vida, dificuldades fora do âmbito escolar e articulação com família. Em alguns casos, o mentor (tutor ou orientador) também é aquele que ajuda o aluno a descobrir seus talentos e se conectar com pessoas de fora da escola que podem apoiá-lo no desenvolvimento dessas habilidades. A mentoria não tem como foco o acompanhamento psicológico, mas o apoio ao estudante no alcance de metas e na superação de desafios.

Planos individuais de aprendizado

Muito relacionados ao desenvolvimento da autonomia, os planos individuais de aprendizado são utilizados por algumas das escolas pesquisadas como instrumentos pedagógicos desenvolvidos com ou sem o apoio da tecnologia, mas sempre a partir do que o aluno precisa e deseja aprender. De maneira analógica, costumam tomar a forma de roteiros de aprendizagem, definidos periodicamente pelo aluno com a ajuda de um tutor. Com a tecnologia, são elaborados com apoio de plataformas inteligentes, que entendem como cada aluno aprende melhor e sugerem caminhos para que ele cumpra seus objetivos educacionais.

Avaliação individualizada e de processo

As escolas investigadas também utilizam formas mais personalizadas de avaliação. Uma vez que cada aluno segue seu próprio percurso pedagógico, respeitando ritmo, características e interesses distintos, as provas padronizadas deixam de fazer sentido. Com isso, as avaliações passam a ser feitas de forma contínua, com o intuito de acompanhar a evolução de cada estudante e garantir que ele aprenda. Também observa o desenvolvimento de competências que extrapolam o âmbito dos conteúdos formais, mas são igualmente importantes para a formação integral dos estudantes. A tecnologia tem permitido que algumas dessas avaliações aconteçam em tempo real, gerando dados que orientam a ação imediata de professores e dos próprios alunos para assegurar que a aprendizagem aconteça.

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Aprendizado por projetos

As experimentações concretas ou atividades mão na massa têm sido amplamente utilizadas pelas escolas mapeadas, com grande efeito sobre o engajamento dos alunos. Geralmente, os projetos são interdisciplinares, ajudam os alunos a compreender conceitos mais complexos ou abstratos e permitem o desenvolvimento de uma série de outras competências, como liderança, criatividade, capacidade de resolver problemas e trabalhar em grupo. Em algumas escolas, eles são realizados por alunos de idades e séries diferentes, o que amplia a integração e enriquece a troca. Muito frequentemente, buscam resolver problemas da vida real, conferindo sentido ao que se aprende.

Desenvolvimento integral

As escolas que promovem a educação personalizada têm um olhar integral para o aluno, a fim de assegurar que os conteúdos e estratégias de aprendizagem dialoguem com o perfil e o projeto de vida de cada um. Assim, promovem atividades educativas que desenvolvem os estudantes em diferentes dimensões (acadêmica, física, socioemocional, cultural).

Tecnologia e Ensino híbrido

O uso mais intensivo e estratégico de recursos tecnológicos na educação gerou uma nova abordagem pedagógica denominada de ensino híbrido, que mescla atividades on-line e offline.

No artigo Ensino Híbrido: uma Inovação Disruptiva? — Uma introdução à teoria dos híbridos, do Clayton Christensen Institute, organização internacional dedicada ao estudo de inovações disruptivas, os autores trazem a seguinte definição: “O ensino híbrido é um programa de educação formal no qual um aluno aprende, pelo menos em parte, por meio do ensino on-line. O estudante tem algum controle sobre pelo menos um dos seguintes elementos: tempo, lugar, modo e/ou ritmo do estudo. A educação ocorre pelo menos em parte em uma espaço físico supervisionado”.

Os especialistas dividem os tipos de ensino híbrido em quatro grandes modelos: de rotação, flex, à la carte e virtual aprimorado.

O primeiro modelo, de rotação, é aquele que, dentro de um curso ou disciplina (ex: matemática), os alunos se revezam entre atividades pré-determinadas, sendo uma delas necessariamente virtual. Esse modelo apresenta quatro subtipos: rotação por estações, laboratório rotacional, sala de aula invertida e rotação individual.

Na rotação por estações, diferentes atividades são propostas durante uma aula. A turma é dividida em subgrupos, que se revezam nas tarefas. No laboratório rotacional, o rodízio ocorre entre a sala de aula e um laboratório de informática. Duas das experiências que visitamos e que serão detalhadas a seguir praticam esses dois modelos. A sala de aula invertida é aquele modelo em que o aluno tem o primeiro contato com o conteúdo virtualmente, fora da escola, e depois discute e tira dúvidas em aula. Já no modelo de rotação individual, cada aluno tem um roteiro individualizado e não participa necessariamente de todas as estações ou modalidades disponíveis.

O segundo modelo é o flex. Nele, certas disciplinas e cursos têm o ensino on-line como sua espinha dorsal, mas os estudantes comparecem diariamente à escola ou universidade, com uma agenda flexível a ser cumprida, de acordo com os objetivos previamente estipulados. Aqui há um alto grau de personalização, uma vez que estudantes têm roteiro individual de aprendizagem e não são agrupados por séries. A arquitetura da sala de aula é bem flexível.

O terceiro é o à la carte. Nesse modelo, os alunos fazem cursos inteiros de maneira virtual. Têm um tutor on-line e, ao mesmo tempo, continuam a ter experiências educacionais em escolas tradicionais. Os alunos podem participar das aulas on-line tanto no campus físico como em outros lugares. Esse modelo pode ser aplicado, por exemplo, em uma disciplina avançada de língua estrangeira, em que o professor esteja disponível apenas virtualmente.

Já o quarto é o virtual aprimorado. Trata-se de um modelo que ocorre basicamente on-line, em que encontros presenciais para acompanhamento ocorrem de maneira agendada entre tutores e alunos. Nele raramente alunos e professores se encontrarão todos os dias da semana.

Veja, a seguir, iniciativas que personalizam o ensino com os elementos acima apresentados.

CLIQUE NAS FOTOS PARA VER CADA UMA DAS EXPERIÊNCIAS

Chovia como há muitos meses São Paulo não via naquela cinzenta manhã de junho. A abertura da Copa do Mundo do Brasil seria em poucos dias, os metroviários tinham decidido por entrar em greve. O caos. Os quase 20 km que a reportagem percorreu em pouco mais de uma hora até chegar a Cotia, na região metropolitana de São Paulo, foram compensados pelas boas-vindas efusivas de Kayo Pereira, 8, e Ana Luíza dos Santos, 10. Eles estavam ensopados.

"Não querem comprar uma rifa?", perguntaram aos visitantes. "É para a nossa festa junina". Anotaram os nomes, explicaram o sorteio e a premiação e entregaram um papelzinho. Lá se foram R$ 5. No Âncora, escola que atende de graça alunos de baixa renda de fundamental 1 e 2 com uma proposta pedagógica totalmente diferente da tradicional, são os alunos que fazem as coisas acontecerem: das festas aos temas que cada um estuda, tudo vem deles. É deles, inclusive, a responsabilidade de guiar os visitantes pela escola e apresentar o modelo pedagógico. (Que fique claro: logo depois, em sala de aula, Kayo e Ana Luíza reapareceram secos).

"Procuramos criar sentido para a aprendizagem. Aqui o conhecimento é construído junto com os educandos, e não para eles. É por isso que o aprendizado é significativo. As crianças dão ideias, sugerem e a gente vai dando o apoio de que elas precisam", afirma Claudia Duarte, coordenadora pedagógica da escola. Para tanto, continua a educadora, a assembleia, em que todos os alunos discutem juntos as normas da escola, algumas ferramentas pedagógicas e a forma como organizam o espaço são fundamentais.

Fisicamente, a escola não se parece nada com escolas tradicionais. A começar por uma lona de circo, que se vê de longe, mesmo antes de chegar ali. Debaixo dela, crianças pulam na cama elástica, se exercitam e estudam. O mesmo ocorre na pista de skate, na quadra, nas áreas verdes ao ar livre -- quando não chove --, no refeitório ou em qualquer outro lugar da instituição.

Qualquer mesmo. Por lá, tutores e educandos gostam de dizer que o aprendizado pode acontecer em qualquer espaço, e não apenas nas salas de aula -- que, por sinal, também não são nada comuns. Elas não têm carteiras enfileiradas e um professor na frente, ditando o que cada um precisa aprender. São salões com mesas que se juntam ou se separam, conforme o jeito que cada um escolheu estudar naquele dia, se sozinho, em dupla ou em grupo. Tutores ficam disponíveis para ajudar a sanar dúvidas.

As atividades são definidas por cada aluno com seu tutor e anotadas em roteiros de estudo individuais, uma das ferramentas pedagógicas que o Âncora usa para estimular a autonomia e o autoconhecimento dos alunos. Funciona assim: os alunos descobrem interesses específicos, procuram seus tutores e, juntos, constroem uma tabela com objetivos de aprendizagem para um determinado período. Nesse percurso, os alunos estudam conteúdos das mais diversas disciplinas. Se as crianças se interessarem em conhecer assuntos mais profundamente, os tutores estão ali para ajudar. No fim, os alunos têm que desenvolver um projeto a partir do assunto pelo qual se interessaram.

Naquele dia, por causa da chuva, a maior parte dos alunos estava estudando nos salões. Mas Ana Carolina Sá, 10, não. Ela estava sob a lona do circo, com sua tabela periódica e notebook em mãos, estudando como construir um laboratório de química na escola. Uma prima mais velha havia mostrado para ela um material da disciplina, ela se interessou e pediu para a tutora incluir química em seu roteiro. "Eu agora estou pesquisando como montar um laboratório, que equipamentos eu preciso, essas coisas. Para isso, eu preciso estudar sobre química. Assim, eu consigo ensinar os outros. Como é que eu vou ensinar, se eu mesma não souber?", pergunta a menina.

Espera aí. Química, Carol? Mas você só tem 10 anos. "Se eu estivesse em outra escola, eu ainda não ia [estar estudando química] porque eu ainda ia estar no quinto ano. Ainda ia ter que estudar um monte de coisas até chegar em química. Mas já tô adiantada porque eu aprendo as coisas mais rápido. Aqui, assim que eu termino de estudar um assunto, eu posso já passar para outro e aí eu vou aprendendo mais."

Se quiser, Carol pode oferecer seus conhecimentos recém-adquiridos sobre cádmio e hidrogênio no quadro Preciso de ajuda/Posso ajudar. Como cada aluno tem projetos próprios, conhecimentos e sabe muito de assuntos diferentes, o Âncora usa um quadro para estimular a troca de saberes entre eles, em um espaço em que podem demonstrar fraquezas e exercer a solidariedade sem nenhum tipo de julgamento. É o aprendizado entre pares, que é incentivado em vários outros momentos da rotina da escola.

Os alunos são estimulados, por exemplo, a se reunir em grupo para resolver um problema real. É o caso do grupo do lixo, que envolve várias crianças. No fim de semana anterior, elas tinham conseguido que sete caminhões de lixo fizessem uma coleta especial em uma comunidade dos arredores da escola que não recebe esse serviço regularmente. Agora que o lugar está limpo, os alunos estão estudando como ensinar aos moradores a dar um destino correto aos detritos que produzem.

Provas, eles (quase) não fazem. Mas não significa que não sejam avaliados a todo momento. Uma lista com todos os conteúdos que as crianças precisam dominar ao longo dos anos, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, fica afixada na parede dos salões. Os tutores registram tanto o domínio dos conteúdos demonstrado no desenrolar dos projetos, quanto o desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Todos os alunos têm registros individuais atualizados diariamente.

"Aqui não se olha uma classe; se olham crianças, se olham pessoas, individualmente. Isso foi o me fascinou e me estimulou a vir para cá. Eu vi esse respeito pela história de cada um, pelo momento em que cada um está e fiquei", diz Juliana Guida, tutora do Âncora e filósofa por formação.

É assim, com forte envolvimento entre as pessoas, com o incentivo à autonomia dos estudantes, com o desenvolvimento de atividades relacionadas aos interesses e com o estabelecimento de metas e avaliação constante, que o Âncora personaliza o ensino. Ao longo da visita, alunos e educadores repetiam: "Pena que hoje está chovendo tanto. Não dá para ver a escola funcionando direito". Mal sabiam eles o tanto que deu para ver.

"Eu já estou craque em multiplicação", comemorou Pedro Guilherme, 8, ao finalizar um desafio de matemática e ganhar mais uma condecoração no ambiente virtual em que estuda matemática. Ao seu lado, a colega Julia Maciel, 8, respirou fundo e lamentou: "E eu não tô entendendo nada de reta numérica". "Quer que eu te ensine?", perguntou o garoto. A menina aceitou a ajuda, compreendeu a lógica, acertou os exercícios e festejou com o amigo: "Bate aqui. Hoje a gente está demais".

Em uma tacada só, sem perceber, os alunos demonstraram características que fazem brilhar o olho de qualquer educador: motivação (em "Eu já estou craque em multiplicação" e "Hoje a gente está demais"), trabalho em equipe, colaboração e aprendizado entre pares (com tudo o que veio depois de "Quer que eu te ensine?"). A cena aconteceu na Escola Municipal de Ensino Fundamental Halim Abissamra, em Ferraz de Vasconcelos, região metropolitana de São Paulo, numa turma de 3º ano que participa do programa Khan Academy nas Escolas, promovido pela Fundação Lemann, Instituto Natura, Ismart, Instituto Península e Fundação Telefônica.

No programa, que deve chegar a 50 mil alunos de escolas públicas de todo o Brasil até o fim do ano, o projeto oferece capacitação de professores e dá suporte pedagógico para que escolas usem os conteúdos e recursos da Khan Academy em aulas de matemática do ensino fundamental. Em contrapartida, os professores devem registrar o desempenho dos alunos ao longo do programa e analisar as estratégias de aprendizado adotadas.

“Khan Academy é extensão da sala de aula e pode ser acessada de qualquer lugar”
Paulo William
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Khan Academy

A Khan Academy nasceu despretenciosa em 2004, depois que o norte-americano Salman Khan começou a dar aulas de matemática pelo YouTube para primos que viviam em outro estado. Não só os primos de Khan, mas os amigos do primos de Khan, os amigos dos amigos e até os filhos do Bill Gates começaram a estudar pelas aulas do até então analista do mercado financeiro. Em 2006, as aulas seriam reunidas em um site. De lá para cá, além de videoaulas, a Khan Academy passou a ter um algoritmo cada vez mais inteligente, oferecendo exercícios, registrando o desempenho dos alunos e fornecendo dados detalhados sobre os estilos de aprendizagem de cada um. Seus conteúdos, oferecidos gratuitamente pela internet, vêm sendo traduzidos para o português pela Fundação Lemann.

Na Halim Abissamra o programa está sendo implantado desde o início do ano. Parte das aulas de matemática de 3º e 5º anos ocorre no laboratório de informática, num espaço em que cada criança tem acesso a um computador. Assim, cada uma tem um perfil na plataforma e as informações sobre aprendizagem que a Khan Academy presta são individuais. Na plataforma, os alunos assistem a videoaulas, fazem exercícios, resolvem desafios.

"O aluno tem contato com vários tipos de atividade: ele tira dúvidas, vê um vídeo, recebe dicas. São várias as possibilidades de aprendizagem, na sala de aula. De repente o professor explicou de uma forma, mas o amigo explicou de outra e ele tem um entendimento melhor. Então o aluno aprende com outro aluno, com o professor e com a máquina", afirma Doralice Correia, uma das professoras responsáveis pelo programa na escola.

Como num videogame, a cada desafio ou nível completado, a pontuação dos alunos aumenta e eles podem incrementar seus avatares (imagens que representam os jogadores). "As crianças adoram. Eles já estão nessa era digital, já estão acostumados com jogos. O que para a gente, adulto, é novidade, para eles é natural", diz a professora, que ressalta o aumento na motivação dos estudantes desde que a plataforma começou a ser usada.

Cauê Felipe, 10, aliás, é prova viva disso. O aluno do 5º ano gostou tanto de aprender com a Khan Academy que começou a fazer exercícios em casa e avançou sozinho pelos temas que ia tendo mais habilidade, segundo seu próprio ritmo de aprendizagem. Enquanto seus colegas somavam cerva de 10 mil pontos, ele já tinha 76 mil. E seu avatar estava todo equipado.

"A plataforma é uma extensão da sala de aula, que pode ser acessada aqui do laboratório, de casa, de qualquer lugar. O aluno consegue aprender por conta própria e os professores conseguem estimular cada um, porque a plataforma é inteligente e mostra em que ponto cada aluno está", diz Paulo William, vice-diretor da escola.

O Khan nas Escolas, portanto, consegue personalizar o ensino oferecendo aos alunos a possibilidade de aprender em seu próprio ritmo e dando aos professores a possibilidade de recomendar atividades a partir das necessidades de cada um.

A rotina diária de Alison Elizondo depende de análises que ela faz na noite anterior. A professora do 4º ano da escola pública Burnett Elementary, na Califórnia, Estados Unidos, vasculha todos os dados que seus alunos deixaram na plataforma de aprendizado que usam, a Khan Academy. Vê como um grupo está atrasado e precisa de ajuda específica, percebe as crianças que estão com facilidade e que precisarão de estímulos diferenciados. Pensa em formatos em que quem sabe um pouco mais pode ajudar os que sabem um pouco menos.

“Plataformas como a Khan permitem esse tipo de abordagem, pois personalizam o aprendizado. Elas criam dados sobre a evolução e o desempenho dos alunos em cada conteúdo estudado. Assim, acabam por personalizar o papel do professor que, quando passa a ter acesso a essas informações, sabe exatamente o melhor modo de ajudar cada aluno em suas dificuldades específicas”, afirma a professora. Ela chamou o método que criou, baseado em um dos tipos de ensino híbrido e que coloca o aluno no centro do aprendizado, de We <3 2 Learn ou Nós Amamos Aprender.

Para que sua sala de aula fosse um ambiente em que os alunos se sentissem em casa, seguros para aprender e se arriscar, Alison mudou a configuração do lugar. Como queria deixar o espaço mais aconchegante, foi trazendo os móveis e enfeites de sua casa, foi trazendo, foi trazendo… E hoje sua sala de aula conta com com sofá, mesinha de café, aquário, luzinhas de natal, luminárias espalhadas, além de vários murais coloridos, cada um com um propósito pedagógico diferente.

E para ajudar a tornar esse espaço agradável também pela atitude dos alunos, a turma tem um contrato com cinco normas: 1) espere a sua vez; 2) use palavras educadas; 3) escute com atenção; 4) colabore com os colegas; e 5) elogie. Todos os alunos assinam, mostrando estar de acordo com o combinado. “É um ambiente solidário, onde um aluno ajuda o outro e torce pelo outro”, define a professora.

Acordos feitos, é hora de aprender. Alison adota o modelo de ensino híbrido de rotação por estações: divide as aulas em cinco momentos de 25 minutos e vai rotacionando as atividades, de maneira que todos os alunos seguem fazendo as mesmas tarefas nas diferentes etapas. Os grupos são definidos por ela a partir da análise que faz sobre o desempenho de cada um. “O professor não precisa mais ficar na frente da sala, dando uma aula única para a turma toda, sem considerar as variadas formas e ritmos de aprendizado de cada aluno. Hoje temos recursos para fazer isso de uma maneira melhor”, afirma ela.

Um dos momentos da rotação é sempre com a Khan Academy. Cada aluno, em posse de um laptop, estuda pela plataforma, que registra todos os passos dados no ambiente virtual. Aqui, se um aluno tem mostrado mais dificuldade, Alison o ajuda individualmente. Se ela pode ser tirada por algum colega, a professora pareia os alunos de forma que uns ajudem os outros. Conforme eles vão dominando os conhecimentos trabalhados, seus nomes vão para o mural de especialistas.

Em outra etapa, em grupos, os alunos criam e resolvem problemas baseados nos conteúdos obrigatórios do currículo norte-americano. Eles ainda fazem uma aplicação prática do problema, tentando aproximá-lo de suas vidas cotidianas e propõem uma solução para aquela situação. Há outra estação em que eles fazem vídeos tutoriais sobre como lidaram com os desafios, para deixar de instrução para os outros grupos. Na quinta e última etapa, eles refletem sobre o que aprenderam, no que foram bem e o que ainda precisa ser trabalhado e a professora decide como pode ajudá-los.

Além de aprimorar o processo de aprendizado dos conteúdos obrigatórios, esse tipo de abordagem, segundo Alison, também auxilia na formação do aluno em competências úteis para a vida. A escola onde leciona tem como diretriz o foco nas habilidades que os alunos precisam desenvolver para o século 21. “Salman Khan já falou em uma de suas palestras que 65% dos empregos que meus alunos vão ter ainda não foram criados. Não sabemos quais habilidades técnicas eles vão precisar para esses empregos, mas sabemos que precisam saber se comunicar, trabalhar colaborativamente, ser criativos, pensar criticamente e resolver problemas”, analisa a professora que completa: “Podemos ensinar isso tudo mesmo sem saber como será o futuro”.

Os esforços de Alison já começam a mostrar resultados. A maior parte de seus alunos é de baixa renda e oriunda de famílias imigrantes. Mas, ainda assim, a taxa de proficiência de sua turma chega aos 80%, média superior a da escola. “Para qualquer programa ter sucesso, as crianças precisam ser livres para arriscar e para errar. A tecnologia tem um papel importante na abordagem e contribui muito para essa liberdade. Quando os alunos se sentem mais estimulados e inspirados, passam a entender que o aprendizado é contínuo durante a vida, que não é restrito ao ambiente escolar”.

Assim, com o método We <3 2 Learn, Alison usa análise de dados, plataformas de aprendizagem, atenção individualizada e aprendizado entre pares para personalizar o ensino.

O caminho que leva para o Ginásio Experimental Carioca Rio de Janeiro, no Jacaré, zona norte da cidade, ainda mostra resquícios de uma violência que já foi constante. De fuzis para fora, carros de polícia fazem patrulhamento, enquanto moradores seguem para o trabalho indiferentes à presença policial. As casas simples e remendadas e o terreno baldio cheio de lixo ao lado da escola contrastam com o que se vê de sua porta para dentro. Quase um oásis.

Tudo muito limpo, pintura em dia, paredes sem nenhuma pixação são enfeitadas com trabalhos dos alunos. Os murais, que são temáticos, neste bimestre retratam pipas. A comandante de tudo isso é a diretora Flávia Resek, que confia tanto no trabalho que seus professores fazem que matriculou seu filho na unidade. "Essa escola sempre foi referência na região, mesmo nas direções anteriores. Mas com o Ginásio Experimental Carioca, melhorou."

Resek se refere a um programa da Secretaria Municipal de Educação do Rio que está transformando algumas escolas da rede em período integral e oferecendo atividades que vão além das disciplinas tradicionais, como momentos previstos na grade para o aluno pensar e criar seu projeto de vida e exercer o protagonismo juvenil. E mesmo nos horários das matérias regulares, há espaço para criar.

As aulas de ciências e matemáticas do 7º ano, por exemplo, muitas vezes acontecem juntas. As professoras Flavia Moura e Carla Fernanda Pires é que criam esses ambientes. Elas fazem parte de um curso de formação da Fundação Lemann que estimula educadores a usarem o ensino híbrido (veja mais na seção Sua Vez). Com o que aprendem lá, têm experimentado levar o modelo de rotação por estações para sala de aula.

Naquele dia, deveriam estudar números decimais no universo vegetal. Toca o sinal e o barulho da entrada rapidamente se aquieta. As professoras passam o comando: os alunos deveriam se sentar aleatoriamente em grupos de cinco pessoas nas quatro estações que elas já haviam organizado. A cada 20 minutos, elas avisariam para que os alunos trocassem de estações.

Na primeira estação, trabalhariam conteúdos de matemática e ciências. Os alunos precisavam acertar a conversão de fração para número decimal. Cada conta certa dava direito a colar uma parte de uma árvore em uma cartolina. Se todas as contas fossem corretamente completadas, a árvore ficaria completa. Se não, bom, aí faltaria um pedaço. Aqui, detalha Flávia (a Moura), trabalhavam habilidades manuais, criatividade e fixavam o conteúdo.

Na segunda estação, elas organizaram perguntas com conteúdos mesclados de reino animal e números decimais. Um colega desafiava o outro com duas questões. A atividade terminava quando todos tivessem respondido aos desafios.

Nas estações três e quatro, os alunos tinham acesso a computadores com atividades que as professoras adaptaram da Educopédia, o ambiente virtual de aprendizagem que a rede municipal do Rio usa. Mas como a escola não tem internet estável, os conteúdos estavam offline mesmo. Uma quinta estação ficava disponível para quem terminassem as atividades mais rapidamente que os 20 minutos previstos. Ali, os alunos poderiam optar por colocar um crachá de monitor e circular pela sala para ajudar colegas em apuros ou ler revistas de ciências.

Durante toda a aula, a atmosfera é de silêncio. As professoras circulam pelas estações, mas tentam não intervir muito. Deixam os alunos buscarem as respostas com colegas ou com os recursos disponíveis. "Nas aulas híbridas, a gente procura uma organização da sala em que os alunos estejam trabalhando sempre em grupo, um auxiliando o outro e buscando o tempo todo que eles caminhem com as próprias pernas", diz Flávia que, ao final das rotações, faz uma avaliação com a turma do que foi bom e ruim na atividade.

Os efeitos no aprendizado, contam as professoras, são visíveis. As aulas nesse formato acontecem de maneira alternada com as mais tradicionais. Quando parte do conteúdo é trabalhada dessa forma, o rendimento das aulas não híbridas é melhor. "Eles passam a se envolver mais com as atividades, mesmo nas aulas tradicionais. E, misturando as disciplinas, eles veem mais utilidade no que estão aprendendo", afirma Carla.

É que eles estão mais motivados, já criaram uma cultura de reflexão e, principalmente, de colaboração. Victor Hugo Alves, 13, que o diga. O menino foi um dos que mais usou o crachá de monitor e ajudou os colegas. "Já terminei porque estava fácil. Aí vim ajudar meus amigos", disse o menino, asssim que terminou os desafios de uma das estações. Carla conta que o aluno, que costumava ser muito tímido, tem se expressado melhor desde que começaram a aplicar a metodologia.

No GEC Rio de Janeiro, a personalização do ensino acontece a partir das aulas híbridas, que estimulam os alunos a serem mais solidários e autônomos, além de dar sentido real ao conteúdo acadêmico.

Uma obsessão une duas escolas estaduais do Rio de Janeiro, menos de 500 metros distantes uma da outra: estimular cada um dos alunos em todas as suas dimensões para que se tornem seres humanos completos. Os colégios José Leite Lopes, mais conhecido como Nave, e Chico Anysio, apostam em programas que dão protagonismo aos jovens de ensino médio que atendem, e os incentivam a conhecer suas potencialidades. Tanto que frases que lembram a integralidade dos alunos e a importância do ato de educar se espalham pelas paredes das duas escolas.

O Nave se chama assim por conta de um acrônimo: Núcleo Avançado em Educação. A escola, mantida com o apoio do instituto Oi Futuro, possui instalações ultratecnológicas e recursos de ponta para garantir uma formação de excelência nos três cursos técnicos que oferece: roteiro para mídias digitais, programação e multimídia.

Para entrar na escola, que é publica, os candidatos precisam passar por seleção. Os alunos ficam na escola em tempo integral, das 7h às 17h. Têm aulas do currículo comum de ensino médio e aulas do técnico, em que precisam desenvolver produtos com qualidade de mercado. "Aqui a gente aprende tudo o que a gente vai precisar quando chegar no mundo lá fora. Aprendemos como devemos nos portar no mercado de trabalho e na vida", diz Leonardo Silva, 17, aluno do 3º ano.

No Nave, os alunos vão aprendendo a ser protagonistas em pequenas e grandes escolhas. Depois de experimentar, ao longo do 1º ano, conhecimentos dos três cursos, escolhem qual curso seguir a partir do 2º. Com tantos estúdios e recursos à disposição, podem escolher de que forma entregar trabalhos: áudio, vídeo, jogos, artes manuais, textos – tudo é encarado como formas de expressão válidas no século 21.

Os professores do Nave são estimulados a participar de um núcleo de pesquisa relacionado à educação interdimensional, defendida pelo professor Antonio Carlos da Costa. No projeto, os professores identificam um problema e propõem uma forma de resolvê-lo. Esse processo é todo documentado para que essas soluções possam ser replicadas fora da escola.

Um exemplo é a pesquisa feita pelo professor de artes Carlos Marapodi. Ele investiga a figura do professor orientador. Para isso, propõe que as turmas sejam divididas em grupos menores para que cada aluno possa ter uma conversa mais particular sobre seus anseios, de maneira que o educador possa estimular os jovens. "Quando o poder que o adolescente tem é canalizado da maneira adequada, você tem a surpresa de ver jovens com um discurso consciente, embasado, pessoas solidárias, autônomas, competentes, que são coisas previstas na LDB [Lei de Diretrizes e Bases], além de fazerem parte daquelas que o homem do futuro deva ter."

Já na Chico Anysio, o foco é desenvolver as habilidades chamadas de socioemocionais: colaboração, curiosidade, persistência, responsabilidade. Desde o ano passado, com o apoio do Instituto Ayrton Senna, a escola vem adotando um currículo novo. Hoje, atende 169 alunos de 1º e 2º anos em período integral, que passaram por processo seletivo, mas deve chegar a 270 no ano que vem, quando todas as turmas tiverem funcionando com a inclusão do 3º ano.

Além das disciplinas do ensino médio, parte da rotina do aluno é voltada para desenvolver essas habilidades. São quatro momentos durante a semana: estudo orientado, projeto de vida, autogestão e projeto de intervenção e pesquisa. "O papel da escola é despertar o desejo que o aluno tem de aprender. E como fazer isso se ele é tratado como um número? É preciso observar as características de cada um", defende o diretor Willmann Costa, que completa: "Não adianta só ser gênio. O século 21 não tem espaços para gênios que não sabem trabalhar em equipe", afirma.

De acordo com Costa, no estudo orientado, um educador da escola ajuda os alunos a aprender a estudar. O professor, que pode ser de qualquer disciplina, orienta os jovens sobre como buscar informações relevantes, como sintetizá-las. No projeto de vida, assim como ocorre no Nave, professores se reúnem com grupos pequenos para ouvir angústias acadêmicas ou pessoais e para ajudar a traçar metas maiores. Na autogestão, os alunos ficam livres para fazerem o que quiserem, como participar de atividades artística ou corporal, realizar oficinas, estudar para a prova.

Já no projeto de intervenção e pesquisa, todos os alunos da escola são misturados. Eles formam grupos independentes de turma ou série e devem, ao longo do bimestre, desenvolver um projeto que tenha relação com a vida real. Na ocasião, os alunos de 2º ano estavam finalizando um projeto sobre a imagem que a cidade do Rio de Janeiro tem. Eram três grupos: um trabalhou com recortes de jornal; outro com música; outro com vídeo.

Além de passar por questões de história, geografia e sociologia, os alunos tinha na ponta da língua o que aprenderam. "Aprendi a ter muita paciência, calma, a ouvir as opiniões dos meus amigos e dos professores. No fim, com o trabalho quase pronto, o sentimento é de felicidade, alegria. É muito gratificante", afirma Milena Carvalho, 16. Sua amiga, Camila Santana, 16, também vê um sentido para além do acadêmico ao trabalhar em projetos: "A gente aprende com as dificuldades, principalmente a importância da cooperação e liderança. Então, quando a gente sai da escola, sempre que tem um problema, a gente lembra que tem que ajudar, que temos que ser aquele líder que ajuda. E isso ajuda agora e futuramente", diz a menina, confiante.

Em comum, Nave e Chico Anysio estimulam a personalização ao olhar para cada aluno como um ser único e formado por várias dimensões, que devem ser estimuladas. Acompanham de perto as dúvidas, o despertar de talentos e as tomadas de decisão pela figura do mentor e dão aos jovens a liberdade de escolher parte de seu percurso acadêmico.

O que acontece quando um grupo de pais e educadores comprometidos decide que dá para ter um ensino de melhor qualidade nas escolas públicas de uma região? Bom, no caso da Summit Public Schools, rede norte-americana que inaugurou sua primeira escola em 2003, aconteceu muito mais do que se esperava: em 11 anos, as escolas se tornaram referência na adoção do ensino híbrido e, com sua metodologia baseada em dar autonomia aos jovens para estimulá-los a aprender a vida toda, aprovam 96% de seus egressos em cursos universitários de quatro anos de duração. A rede hoje atende a 1.600 alunos em sete escolas na Califórnia e, em breve, vai inaugurar mais duas unidades no estado de Washington.

Um elemento que acompanha todo esse processo de criação e implantação de uma metodologia bem sucedida é a tecnologia, que fornece dados para otimizar a aprendizagem, ajuda os professores a tomar decisões e ainda cativa os jovens. Mas muito antes de os dados serem usados cotidianamente para fins pedagógicos, foram eles os responsáveis pela maior mudança da rede.

Ao buscar saber onde estavam os egressos da primeira turma formada na escola, os educadores da Summit descobriram que 55% dos ex-alunos estavam a caminho de se formar, número duas vezes maior que a média nacional. "Os dados mostraram que, apesar de um currículo rigoroso que preparava os alunos para a universidade, os estudantes ainda tinham uma lacuna de aprendizagem vinda do fundamental 1. Esses resultados também mostraram que um modelo de escola baseado no professor deixava muitos alunos sem a capacidade de se engajar no próprio aprendizado", afirmaram representantes da escola em relatório que explica os motivos da opção por um novo modelo de ensino.

Foi assim que, no ano letivo de 2012-2013 (nos EUA o ano começa no segundo semestre), a Summit começou a testar um modelo de ensino híbrido para a disciplina de matemática. Abandonou formações tradicionais de sala de aula e organização por séries, adotou salões e salas para trabalhos em grupo, além de várias ferramentas tecnológicas que permitiram que os educadores e os próprios alunos tivessem acesso a dados que mostravam onde cada um estava e o que faltava para alcançarem metas individuais. Deu tão certo que, no ano seguinte, expandiu o modelo para todas as disciplinas. Hoje, o modelo flex inclui não só matemática, mas língua inglesa, história, estudos sociais, ciências, línguas estrangeiras e outras eletivas.

Com a adoção desse modelo, a rotina dos alunos mudou de ponta-cabeça. Por exemplo, atualmente, de segunda a quinta-feira, um aluno da Summit começa o dia se dedicando ao que chamam de aprendizado personalizado. Nesse momento, os alunos se sentam em grandes salões, cada um com seu laptop, e trabalham em planos individuais de aprendizagem. Neles, os estudantes definem metas do que vão aprender e desenham roteiros diariamente para alcançar tais objetivos. Para isso, usam uma plataforma on-line desenvolvida pela própria escola em que têm acesso a conteúdos, exercícios e outras atividades. Os dados dos alunos são registrados e ficam à disposição para análise do próprio aluno, do professor e dos pais. Educadores ficam no salão para tirar eventuais dúvidas.

Depois de terem tido contato com a teoria, os alunos passam para um momento que toma a maior parte de seu dia: o de projetos. De acordo com o plano pedagógico da escola, a Summit aposta no aprendizado baseado em projetos como a melhor maneira de ajudar os alunos a desenvolver habilidades cruciais para o sucesso acadêmico e o sucesso na vida. Nessas horas, os alunos vão ter a oportunidade de ver funcionar na prática aquilo que tiveram acesso mais cedo na teoria e, com isso, consolidarão um aprendizado mais profundo e significativo, acreditam os educadores da escola. "Um exemplo de um projeto pode ser escrever um discurso persuasivo que combine as aulas de inglês e as de história ou ainda participar de uma atividade de ciências. Dependendo do projeto, os alunos podem trabalhar em grupos pequenos, em duplas, individualmente ou até com seus professores", explica Dianne Tavener, fundadora e CEO da rede Summit.

Por fim, os alunos se dedicam a um momento de leitura, também mediado pela tecnologia. Com o auxílio de um leitor de livros digitais, os professores conseguem inserir vídeos, testes e perguntas nos textos com os quais os alunos estão trabalhando. Além disso, podem analisar quanto tempo cada aluno levou para terminar uma leitura e as partes em que tiveram mais dificuldade.

A semana é quase toda assim, exceto às sextas-feiras. Nas escolas Summit, o último dia da semana é dia de reflexão. A primeira atividade é sempre o que chamam do tempo da comunidade. Nesses espaços, os alunos se organizam para discutir assuntos que são importantes para eles enquanto grupo. A intenção é proporcionar momentos em que se trabalhe com valores como respeito, coragem, responsabilidade e compaixão.

Depois, é a hora da mentoria. Todos os alunos da Summit têm um adulto responsável por seu acompanhamento individual. E às sextas os estudantes encontram com seus tutores para revisar e avaliar os planos individuais de aprendizagem, para receber conselhos acadêmicos, mas também, se quiserem, compartilhar questões pessoais. Devido ao caráter individualizado desses momentos, é neles que a escola tem condição de descobrir os talentos e as habilidades de cada aluno.

E esses talentos têm oportunidades para se desenvolver ao longo do ano: durante quatro períodos de duas semanas, os alunos saem da escola para fazer o que chamam de expedições. São ocasiões em que os alunos podem buscar conhecer de perto uma profissão, se dedicar a um hobbie ou buscar trabalhar uma competência com qual têm tido dificuldades. “Temos que formar alunos que direcionem seu próprio aprendizado e que aprendam para o resto da vida, mesmo quando estiverem fora da escola”, afirmou Tavenner.

É assim, a partir de um modelo completamente pensado para estimular o aluno a exercer seu potencial, que a Summit personaliza o ensino. Usa tecnologia, por meio de plataformas, para que cada aluno ande no seu próprio ritmo. Propõe que os alunos tenham seu plano individual de aprendizagem, que exige que cada um tenha uma reflexão sobre o que pretende aprender, estabeleça metas e faça um planejamento para chegar até elas. A escola também usa projetos, que mostra aos jovens a utilidade real daquilo que estão aprendendo; e mentoria, que são momentos de atenção individualizada e descoberta de talentos.

Sua Vez

Até aqui, este material apresentou o conceito de personalização, mostrou como ele se apresentou ao longo do tempo, chamou a atenção para a necessidade de se repensar o ensino e relatou exemplos de iniciativas que, de alguma maneira, trazem um olhar individualizado para cada estudante. Então, especialmente para os educadores, chega o próximo passo – ou a angústia imediata: “Achei tudo isso muito legal, mas não sei por onde começar”.

Também já foi mencionado que uma das maneiras de se personalizar o ensino é através do uso da tecnologia. Para ajudar professores a inovar e aplicar técnicas de ensino híbrido, a Fundação Lemann e o Instituto Península coordenam, desde abril de 2014, um grupo de 17 professores que têm se reunido para aprender as bases da metodologia, aplicar em suas salas de aula e compartilhar experiências com colegas e tutores.

O conteúdo dessas discussões poderá ser conferido nos links das engrenagens abaixo. Em cada um dos elementos, é proposto um desafio para o educador e sugerido um passo a passo para a implantação da abordagem em sala de aula.

O material foi desenvolvido pela Fundação Lemann e pelo Instituto Península, com o grupo de experimentação e o apoio dos educadores Adolfo Tanzi, Lilian Bacich e Fernando Trevisani. Longe de ser um conteúdo definitivo, tem o objetivo de iniciar um debate. Clique nas peças para ter acesso ao material completo e use a caixa de comentários para compartilhar suas experiências.

Opinião

Esse especial nasceu, há alguns meses, quando discutíamos em equipe que meios tínhamos para aprofundar o debate sobre os maiores desafios da educação brasileira. No Porvir, sempre buscamos falar de inovação porque acreditamos que está nela a solução para problemas antigos.

Existe uma clareza crescente na sociedade, expressa das mais diversas formas, de que a educação precisa mudar. Que temos escolas do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21. Que não dá mais para termos um ensino tão padronizado. Que os alunos perdem o interesse e deixam a escola. E que a escola está de costas para o mundo.

Ao buscar as soluções que diferentes iniciativas no mundo tinham encontrado para esses desafios, descobrimos que, de alguma forma, elas tinham uma gênese comum: é preciso oferecer uma educação mais personalizada às necessidades de cada estudante.

Depois de um trabalho de imersão de mais de três meses no tema, gostaríamos de compartilhar oito impressões que sintetizamos no nosso papel de espectadores privilegiados – e não de especialistas.

1. A personalização já está aí

Se perguntarmos para um professor se ele personaliza o ensino, nem sempre a resposta vai ser sim. Mas se pedirmos para que apontem características de uma educação adequada às necessidades do século 21, certamente vão apontar fatores comumente relacionados aos processos de ensino-aprendizagem relacionados à personalização. Dirão que os alunos precisam ser autônomos, que devem aprender a aprender, que devem ver sentido nas aulas e por aí vai.

Assim, o termo pode ainda não ser amplamente difundido e o vocabulário pode não ser comum, mas a personalização já está aí. Como disse o empreendedor Claudio Sassaki em entrevista para o especial, não estamos mais discutindo se vai acontecer, estamos discutindo como vai acontecer, em diferentes realidades.

2. Não existe receita de bolo

No especial mostramos experiências diferentes, nacionais e internacionais, sempre gratuitas para o aluno, que expressam a preocupação de personalizar o ensino. Percebemos que há muitos elementos comuns entre as iniciativas, mas que cada uma encontrou um modelo que dá certo para suas necessidades específicas.

3. A personalização pode começar de baixo para cima

Muitas vezes, percebemos que são os professores os responsáveis por introduzir inovações em sala de aula. Por um lado, isso é ótimo, porque mostra que os educadores não estão esperando que uma solução para a sua sala de aula venha dos órgãos centrais de educação. Além disso, permite a efervescência de inovações pequenas que podem estimular várias microinovações no ambiente em que estão inseridos. Por outro lado, dessa maneira, os alunos não se beneficiam de maneira equânime, uma vez que dependem de um bom professor.

4. Ou de fora para dentro

Muitos atores, da iniciativa privada ao terceiro setor, têm passado a levantar a bandeira da educação. Parcerias que ajudam escolas a ter infraestrutura tecnológica e/ou apoio pedagógico têm sido o motor para a personalização do ensino.

5. Às vezes é preciso infringir regras para fazer dar certo

Quando a proposta de um novo modelo de educação parte de grandes redes, é comum que as escolas precisem adaptar as ordens gerais para que o efeito de suas intenções seja percebido em casos específicos. Essa flexibilidade acaba beneficiando quem mais importa, os alunos.

6. Com mais tempo na escola, maior é a chance de propor um ensino diferente

A maior parte das escolas que visitamos era de tempo integral. Com mais tempo na escola, é mais factível de cumprir o currículo obrigatório de maneira significativa, levando os alunos a experimentarem projetos dentro e fora da escola. Mesmo quando os alunos ficavam na escola apenas por um turno, havia uma tentativa de fazer com que a educação se estendesse para outros horários, principalmente pelo uso de plataformas digitais de aprendizado.

7. As salas de aula são silenciosas

O recreio pode ser o mais barulhento, as crianças as mais cheias de energia, quando uma aula que faz sentido para elas começa, a sala de aula fica silenciosa. Não é um silêncio imposto nem absoluto, mas um silêncio concentrado, que comporta conversas entre alunos.

8. Os efeitos nos alunos são a grande prova

Um discurso pedagógico alinhado entre os educadores, material de alta qualidade, infraestrutura à disposição, tudo isso ajuda a compor a ideia de um projeto pedagógico bem sucedido. Mas nada, absolutamente nada, dá tanta segurança de que o caminho está certo do que ouvir os alunos. Não importa se são crianças do fundamental 1 ou jovens do ensino médio, estudantes expostos a um aprendizado que os coloca no centro se comunicam de maneira surpreendentemente clara.


Foi bom poder contar com a sua leitura até aqui. Contribua com reflexões e críticas. Vamos adorar ouvi-lo.



Equipe Porvir

EXPEDIENTE

Edição e produção executiva Patrícia Gomes

Edição Tatiana Klix

Reportagem Fernanda Kalena e Patrícia Gomes

Arte Regiany Silva

Desenvolvimento Gita Tecnologia

Fotografia

Âncora: Marcos Suguio e Patricia Dranoff

Khan nas Escolas: Patrícia Gomes e Silvia Zamboni

We <3 2 Learn: Anna Penido

GEC Rio de Janeiro, Colégio Estadual Chico Anysio e Colégio Estadual José Leite Lopes (Nave): Marcelo Campos

Summit: Patrícia Gomes e Divulgação

Vídeos Fernanda Kalena, Marina Lopes e Rockstar Films

Concepção Mariana Fonseca, Patrícia Gomes, Regiany Silva e Tatiana Klix

Apoio técnico Fernanda Kalena, Larissa Alves, Marina Lopes e Vinícius de Oliveira

Apoio conteúdo

Sua Vez Fundação Lemann e Instituto Península

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